22 de set. de 2009

Samba de uma nota só?

Na última segunda-feira assisti à sabatina de Marina Silva no programa Roda Viva, da Rede Cultura. Mesmo com a ajuda do programa, que já teve seu auge (antigamente eram mais entrevistadores, muito mais incisivos) a senadora do PV não cumpriu seu papel: não conseguiu tirar o estigma de "samba de uma nota só", dado aos políticos com uma proposta focada em apenas um assunto.

A senadora foi questionada, pelo menos uma vez a cada dois minutos, implicitamente ou não, se seria ou candidata à presidência em 2010. Desconversou em todas as 32648792168 vezes. Oras, se ela é o nome mais forte do partido (a menos que você prefira o Penna), tem boas propostas para o desenvolvimento sustentável (mas não suficientes, já digo o porquê) ainda por cima vem ganhando popularidade (favor não confundir com simpatia), qual o problema em dizer "sim, eu gostaria de ser presidente desta p... de país", nem que seja durante um bocejo?

Quando questionada sobre assuntos mais polêmicos, o discurso foi praticamente o mesmo: "Eu sou contra, mas sou aberta ao debate. Desde que haja controle, tá liberado. Mas eu ainda serei contra.". Isso valeu para o aborto, para as usinas nucleares, para as eleições do STF, para a descriminalização da maconha, pesquisa de células-tronco e até sistema de pontos corridos do Campeonato Brasileiro.

Na rodada de perguntas sobre política econômica, faltou o brio presente nos primeiros blocos. Defendeu vários avanços trazidos por FHC e Lula (programas sociais, Plano Real, etc.), mas não apontou nenhuma mudança a ser feita. Tudo bem que é cedo pra apresentar um plano de governo - ainda mais quando nem se é candidata - mas a senadora perdeu uma excelente oportunidade pra botar mais uma nota no seu samba, amarrando seu carro-chefe (o plano de desenvolvimento sustentável) com o que já foi feito e deu certo. Assim mostraria que, caso algum dia resolvesse ser candidata, pelo menos teria um discurso mais abrangente.

Voltando ao Roda Viva: Agora o programa pode ficar mais interessante para os internautas, já que o programa usa blog e até Twitter. O Roda Viva já não está mais em seu auge, mas ainda é mais contundente que os debates Globo e Bandeirantes, até porque se vê menos show e mais debate, o que realmente precisamos hoje em dia.

Em tempo: vale a pena visitar o Memória Roda Viva, portal para pesquisa de grandes temas exibidos nos debates do programa nos últimos 21 anos.

2 comentários:

Conceição disse...

Ótimo post Regis. A ironia refinada é uma das melhores armas contra retórica frágil de nossos políticos.

Claudio Eduardo disse...

Assisti parte do programa em sua reapresentação no domingo.

Surpreendi-me em alguns momentos em que o debate mais parecia uma feira livre à uma sabatina. Outras vezes parecia o Fausto Silva perguntando, ficavam interrompendo a toda hora, não deixavam a senadora responder, enfim, achei um tanto quanto bagunçado mesmo.

Concordo contigo Régis quanto a ser uma boa oportunidade de tirar esse estigma sobre políticos com propostas claramente voltadas para uma única vertente, porém não vejo com maus olhos algumas posturas que podem ser interpretadas como típicas de alguém que está em cima do muro, as quais foram adotadas por Marina Silva no programa Roda Viva. Penso que estamos acostumados a bilateralidade nas questões, nos exigimos e também aos outros a esmo um posicionamento entre sim ou não, bom e mau, certo e errado, etc. Mas pelo o que assisti, entendo algumas posições de Marina como sendo sensatas, pois o que ela preza é uma atitude sustentável em todas as ações e isso também é positivo não? Pois penso que nem sempre conseguiremos tomar as ações que pensamos ser as melhores, mas sempre poderemos melhorar as ações que de um jeito ou de outro serão empregadas.

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