13 de jun. de 2010

Homenagem aos desistentes

A quem já desistiu de criticar, de se manifestar e agir contra o que lhe é imposto, seja o que for e como for. Aos que dizem: "a publicidade é isso aê, não há o que possa ser feito". Aos que se limitam às suas impossibilidades.

"Chegou a hora. A última hora. Fim de linha para as incertezas, para as ruas sem saída. O homem é um brincalhão que vive infeliz. Infelicidade que ainda não é dele, apesar de temerem seu suicídio, quando o que almeja é apenas dizer: o amor é maior. O homem brinca com aquilo que desconhece. Desconhece outro modo de viver a vida que não o da brincadeira. Mas as amarras estão lhe batendo à porta a todo momento. São agressivas e maliciosamente podadoras. Ceder a elas já não é uma escolha. Não há ato de manifestação que seja avisado com anos, meses, semanas, dias, mais noites que dias...
Toda rebeldia é repelida pelo grito calado no canto da parede. Música para os olhos adolescentes. Fedor de saco de mau cheiro aos surdos ouvidos da vida adulta. Impossível não lamentar (que Chico o perdoe), mas como crer na abdicação daquilo que desde sua existência lhe é natural verdade? Mas não há mais tempo. Asas cortadas para vôos acima do limite realidade de altura. A essa altura poucos acreditam, muitos falam e ninguém entende. Gosto seco tal como o da desesperança. Morte de alma e de crença para tal folião. Ninguém sai dessa vida isento de morrer. Todos morrem, de alguma forma, ainda em vida. Os heróis morrem assim como os vilões. Estes demoram mais. Custou caro tentar entender em que momento os valores que engasgam dizer foram subvertidos. O dinheiro sobre as pessoas. A marca sobre a experiência. O orgulho e a frescura gratuita sobre o bem querer mutuo. A aparência sobre a essência. O ter sobre o ser. As crises envelhecedoras sobre as alegrias rejuvenescedoras. A crítica inexperiente sobre o velho apoio. As pessoas gostam de críticas ácidas, mas somente quando for para se alavancarem umas sobre as outras ou puramente para manterem o charme da soberba humana. A resistência é vã. Nula consciência de que podemos ser melhores mudando aos poucos hábitos que de tão velhos e fétidos se tornam vícios. Há quem diga que esse movimento é natural, que lutar contra isso e obter como resposta tamanha negativa nada mais é do que a comprovação de sua naturalidade. Mas, só de sarro, poderíamos pensar ao menos um pouco e deixar de confundir o natural com o normal? Não. Não podemos mais. Há de se respeitar os prazos, os compromissos assumidos, os contratos que assinamos quando, por nossa opção, escolhemos nascer. Primeiro recebemos a glória de vir ao mundo, nos enchem de esperanças, nos dão a oportunidade de brincar, de fantasiar a vida. Depois nos informam que a vida é uma puta brincadeira sem graça.
É chegada a hora de desistir e começar a morrer."

Jokerman, Danken

1 comentários:

Vitório Tomaz disse...

digno, acho que muitos já morreram e nem sabem disto, estão sempre vivendo sobre a sombra do que é real, a sombra do que importa de verdade. Meio que estivessemos em uma mistura de Admirável Mundo Novo e 1984

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