2 de jun. de 2009
Será que toda propaganda é enganosa?
Por
Conceição
A publicidade é e será sempre satanizada por todos que a vêem apenas como forma de convencer e manipular a opinião pública. Às vezes, esse senso comum toma ares ardilosos e até surpreendentes quando vêm de fontes altamente esclarecidas.
Ontem foi o artigo do Juca Kfouri, ao criticar os critérios da FIFA e da CBF para a escolha das sedes da Copa (argumentos com os quais eu concordo), Kfouri encerra seu texto afirmando: "De resto, é bom dizer que orgulha trabalhar num jornal que tenha feito o editorial que esta Folha fez, no sábado, sobre a miséria de nosso futebol. E tenha dado a cobertura que deu, ontem, sobre a escolha das sedes, revelando quem é quem na Fifa e suas folhas corridas. Em vez da celebração acrítica que cabe aos publicitários e aos donos da bola, o dedo nas feridas".
E hoje, novamente na Folha, um editorial intitulado "Propaganda enganosa". Para além do diagnóstico correto a respeito da instrumentalização que os governos fazem da propaganda em periodo eleitoral, e da soma vexatória das verbas ali utilizadas, alguns trechos do editorial explicitam o preconceito em relação a publicidade:
"A PUBLICIDADE oficial, em todos os níveis da administração, não raro é empregada em benefício pessoal do ocupante do cargo. Sob a desculpa de prestar contas à população e divulgar iniciativas de interesse público, serve de ordinário ao propósito de lustrar a imagem do governante. Não é outra a razão para tais gastos aumentarem em período pré-eleitoral, como agora, a mais de um ano do próximo pleito."(...)
"É mais que óbvio o poder de alavancagem eleitoral da distribuição entre veículos locais e regionais. Quanto menor o órgão de imprensa e mais afastado dos mercados competitivos, tanto mais vulnerável à dependência de anúncios estatais.Pulverizar ou concentrar o gasto, por outro lado, constitui só uma estratégia. O absurdo está na existência dessa verba para autopromoção. Enquanto o contribuinte não reagir, seu dinheiro continuará a ser desperdiçado para ludibriá-lo, ainda que a pretexto de esclarecê-lo."
Ou seja, investir em propaganda é sempre uma operação acrítica, que visa somente ludibriar a opinião pública. Em contraponto, o jornalismo seria o "único" meio legitimo de elucidação do público que formaria uma opinão crítica em relação aos desmandos de nossas instituições. A vida não é preto e branco e para essa questão, a dicotomia não colabora pois o "buraco é mais embaixo", embora seja nela que se amparam os artigos da Folha. Poderia elencar várias iniciativas do meio publicitário que provam o contrário, como a criação do CONAR, do CENP, o reconhecimento internacional (são muito poucos nossos jornalistas premiados em nivel global), ou as iniciativas "publicitárias" que contibuiram muito para a nossa democracia (campanha dos cara pintadas e os próprios anúncios memoráveis da Folha dos anos 80). Mas a questão não é essa pois a "satanização" provem do preconceito secular e miope à diversidade de opiniões e sobretudo a percepção de que todos, jornalistas, publicitários, RPs, enfim, todos somos comunicadores. Fazemos parte uma estrutura maior que tem um poder imenso nas mãos (financeiro inclusive) justamente porque é capaz de informar, convencer e persuadir milhares de pessoas. Isso é muito sério e em vez de nos alfinetar, poderiamos juntar forças em prol da construção de uma comunicação mais democrática e acessivel, ao meu ver, via legitima de mobilização da sociedade para o alcance de seus direitos.
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